Era um indivíduo estranho, de uma raridade espantosa. Tinha ideias próprias e sempre o admirei por isso. Regia os seus actos por probabilidades criadas pelo próprio. Demorei alguns anos a percebe-lo, e admito que não foi nada fácil. Mas depois de o perceber, de o entender, de saber a forma como os seus pensamentos são estruturados, fica um tipo previsível, sobretudo se tivermos conhecimento das suas probabilidades, da sua realidade. Para que se veja que é um tipo peculiar, cada vez que vai lanchar, a um café, opta sempre por comer um bolo, faz uma inspecção minuciosa da vitrina e quando não lhe agrada, simplesmente nada diz e irrompe rumo à porta, partindo em busca de outro café. Outro dia já numa segunda tentativa frustrada, depois de todas as hipóteses esgotadas, num acto de profundo desespero acabou por pedir uma torrada. O singular aqui é que ele gosta de torradas com muito, mesmo muito pouca manteiga. Para verificar a quantidade de manteiga deixou cair a torrada em cima da mesa ...