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Compras…

Não estando por agora muito exercitado no mundo das compras no supermercado, e sobretudo no que toca a compras de teor de maior “complexidade”, como por exemplo: carne, peixe (incluindo naturalmente o bacalhau) e legumes. O certo é que por motivos de força maior, lá acabei por embarcar na grande “aventura” das compras no supermercado (e desta vez com uma missão relativamente complexa).
Olhando para aquela lista – ainda à saída de casa – tentei de uma forma metódica, ordená-la mentalmente, para que os diversos itens surgissem por ordem de localização espacial, e pensei como seria bom que a lista já estivesse nesta ordem… Mas tal esforço revelou-se infrutífero, dado o meu desconhecimento em pormenor sobre a localização exata dos produtos.
Postos três anos e tal de casamento, com uma divisão de tarefas mais ou menos rígida e com o pelouro das compras no supermercado nas mãos da minha esposa, todo o meu conhecimento anteriormente adquirido sobre o mundo das compras acabou por se desvanecer ao longo dos últimos anos. Desvaneceu-se tudo, ou pelo menos quase tudo, a menos de uma questão demasiado importante no meu entender e a qual a minha esposa ainda hoje possui algumas dúvidas existenciais. Falo das bolachas e dos sumos, nomeadamente, para mentes mais inquietas - produtos menos “amigos” da saúde - matérias nas quais acabei por me especializar ao longo de vários anos. E que a muito custo tento “desintoxicar-me”…
Voltando então, à missão de “relativa complexidade”, peguei numa moeda de um euro e botei no carrinho que me pareceu igual a todos os outros. Planeei meticulosamente a dita missão dividindo as compras em duas fases, itens “fáceis” e itens mais “complexos”. Comecei pelos itens “fáceis”, os quais eram basicamente compostos por: atum, açúcar, bolachas maria em doses individuais, massa, vinagre de vinho branco, gelatina Royal de ananás, pão de Rio Maior, queijo afatiado, e fiambre da perna Nobre. Embora reconheça que estes dois últimos itens possuam algumas idiossincrasias inatas e que por tal os coloque num grau de dificuldade mais “moderada” que “fácil”, no entanto essa “dificuldade moderada” é colmatada com um pequeno truque, nada mais que uma pequena frase mentalmente gravada ao longo de anos a fio: “200 gramas de fiambre da perna Nobre”, e digo “gramas” e não “grama” para não levantar quaisquer ondas na charcutaria… Quanto ao queijo afatiado, a questão é torneada de uma forma diferente, mirando para os montinhos de queijo previamente cortado e colocado na vitrina, limito-me a apontar para o escolhido (a escolha é baseada por parâmetros aleatórios combinados com alguns dados históricos de compras passadas). No entanto, ao chegar à charcutaria deparei-me com uma senha pouco conveniente para o momento. No sentido de uma otimização do tempo, passei automaticamente para a segunda fase, ou seja, para os itens mais “complexos”. E o primeiro item mais “complexo” foi, nada mais, nada menos que o bacalhau – uma verdadeira estreia, pois em 34 anos de vida nunca tinha comprado – uma escolha nada fácil e à qual certamente me iriam fazer perguntas para as quais nem um curso universitário em engenharia me davam a preparação necessária para responder a questões tão duras. Após uma observação aturada e leiga ao peixe seco e aberto, escolhi (provavelmente de forma aleatória, dada a grande semelhança entre todos eles) dois bacalhaus. Grande azar, uma mulher de volume acima do moderado, atravessa-se à minha frente e coloca o bacalhau em cima da balança. Os dois bacalhaus iam pesando na mão à medida que ia esperando pela funcionária que tardava em chegar à aquela seção para pesar os ditos bichos. Posto uma igualmente dura espera, a funcionária pergunta à mulher como pretendia o bacalhau cortado, ao que ela responde algo de uma forma complexa e elaborada. Do pouco que consegui apanhar (pois tinha todo o interesse em saber o mais possível) a mulher queria também qualquer coisa como separar as partes finas das grossas. Pelos vistos a resposta necessária e que eu tanto temia (dado o meu baixo nível de conhecimento no que toca ao corte do bacalhau) era ainda mais complexa do que eu conseguira imaginar. A parca informação que possuía sobre o assunto e que tinha atabalhoadamente gravado na minha memória, incluía apenas a singela frase “Cortar para cozer.”, ao que a funcionária prontamente retaliou-me com uma carga de perguntas mais pormenorizadas sobre o corte e que eu obviamente não tinha respostas para tal. Vendo-me em apuros, a mulher que tinha sido atendida anteriormente tentou ajudar-me, elucidando-me para a pertinente questão da demolha. De acordo com ela, o facto de não separar as postas grossas e finas trazia o perigo de o sal não ficar uniforme. Não é nada descabido, pensei eu, e lá acabei por aceder ao conselho daquela afinal simpática e voluptuosa mulher e pedi para que separassem as postas grossas das finas.
Após a superação de tal prova de extrema dureza, retomei para o carrinho de compras, ou pelo menos tentei retomar para o carrinho de compras. Porque sinais do carrinho, nada! Nem testemunhas. Nem sequer marcas no chão… Vasculhei a zona em busca do carro perdido, mas tal operação revelou-se completamente infrutífera. Alguém me “roubou” o carrinho com a minha moeda de 1€ e ainda com todos os itens fáceis, a menos do fiambre, queijo e rolos de cozinha.
Dado que tinha em mãos os dois bacalhaus e nem sequer possuía mais nenhuma moeda para o carrinho, tive que me amanhar com um cesto (felizmente com rodas) de substituição. No meio de tal transtorno em busca de um carrinho que insistia em não aparecer, acabei por não perder só o carrinho, mas também a vez na charcutaria. Tirei nova senha, mas a situação em nada evoluiu desde a outra senha. Tinha nada mais que vinte sete senhas à minha frente… Passei na peixaria e comprei dois robalos (aqui a dúvida persiste sempre entre o peixe amanhado e o peixe para a amanhar, no entanto deixo-a à vossa consideração) e segui para o talho pedindo um quilo de bifanas (felizmente foi pacífico e não me fizeram quaisquer perguntas). Voltando à charcutaria, a situação estava quase que estagnada, passei então para a repetição dos itens que me foram “roubados”. Já com os itens a modos que recuperados (sendo obviamente irmãos dos primeiros), passei pela charcutaria, mas ainda faltavam dez senhas. Parti em demanda dos rolos de cozinha, que tive algumas dificuldades em encontrá-los. Quando cheguei à charcutaria, passavam dois números da minha senha. Gozei então, e pela primeira vez em mais de trinta anos, do direito à tolerância de três senhas, direito esse que aquele supermercado proporcionava aos clientes menos atentos ou azarentos, embora tal direito quase fosse arrancado a ferros, dado a proprietária da senha que marcava no mostrador mostrar uma cara de quem lha haviam roubado um carrinho de compras já pago …
Já com todas as compras no cesto dirigi-me à caixa, não deixando de pensar no meu euro “roubado”, e no facto de depois de pagar, ter ainda que alombar com as compras penduradas na mão. E pensava se o meu carro estaria ainda no lugar onde o tivera deixado?
 
Campos.
 
 
* Esta crónica foi publicada no jornal diário Correio do Minho em 1 de Agosto de 2013.
http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=5312

  
A análise do senhor Provedor Américo Baptista:
O amigo Campos prestou um serviço a um desconhecido e ainda pagou ao dito desconhecido. Pagou para trabalhar(MGD).
A separação das postas parece-me um claro excesso de zelo. Ora a dita senhora não poderá fazer isso em casa. Certamente faz parte da forma chique de fazer compras, onde se deve incluir o pão branquinho e o fiambre fininho, neste momento já tudo vem fininho o chourição a mortadela o salame e por ai fora. Eu prefiro o pão tostadinho e a charcutaria grossinha, serei bimbo?

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