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Café de cápsulas (Versão publicada no jornal Correio do Minho)

Olá meus caros, como têm passado sem mim? Bem melhor, não? Bom, vamos lá a deixar-nos de simpatias, porque um homem às vezes também tem que trabalhar e não me pagam para ficar aqui a apaparicar-vos… E quando tal ainda me pedem para vos servir um cafezinho…
O assunto que hoje vos trago é inteiramente do vosso conhecimento e embora não se trate de uma temática de nicho, a abordagem é seguramente mais que digna de uma temática de nicho.
Deixemo-nos de rodeios, vou-vos falar então do café de cápsulas, aquela coisa que deixou metade dos seres-humanos maravilhados e que de repente invadiu uma parte significativa das nossas cozinhas. Já repararam na quantidade de espuma debitada numa chávena de café? É certo que o café é bom com espuma, e concordo sem colocar qualquer reserva, é que sem espuma é no fundo a modos como que uma cevada. Mas espuma com cafeína é outra coisa completamente diferente…
No meu entender e talvez contrariamente a 76% ou até mesmo 77% dos poucos leitores desta crónica num vasto universo (aproximadamente de 4 ou 5 pessoas), aquilo não é café… É espuma (bastante mesmo), e sem querer ferir quaisquer susceptibilidades acho, que aquilo é essencialmente espuma com alguns estratos de cafeína. Outra questão que se levanta neste “pseudo” café é o seu sabor constante. No entanto, uma grande vantagem do café, tal como acontece no vinho, é precisamente a sua aleatoriedade e consequente variedade, em que um café nunca é igual a outro. Meus senhores, o café não se pode escalonar em níveis! Há-que respeitar a sua natureza estocástica… Imaginem agora o que era qualquer dia, ir a uma garrafeira e pedir um “Douro” nível 10, ou um “Dão” nível 9… Pensem nisto!
Depois de tantos anos e de uma experiência extraordinária, quer nos cafés solúveis, quer nos cafés em grão ou até moídos, estes fulanos lá dos Alpes, lembram-se de inovar e basicamente aniquilaram o café, ou pelo menos numa forma de perceção…
Já repararam bem, para a dimensão em que estes transalpinos transportaram o café de cápsulas? Anteriormente era uma coisa preta (sem qualquer desprestígio para esta cor) em grão ou em pó com um odor bastante agradável, mas com uma forma tosca e rude, em que mesmo havendo ali um processo industrial (torrefação), continuava a ser algo de primário. Estes fulanos, provavelmente oriundos do marketing, do design ou talvez doutra origem com um nome qualquer estrangeirado, reuniram-se e deram um ar de sofisticação, de requinte e de bom gosto. O tosco, o rude e o primário de uns grãos foram assim encapotados por uma cápsula de plástico e de alumínio conferindo desta forma um ar de modernidade, sofisticação e em nada ecológico. Mas como as cápsulas são cool, mais um estrangeirismo para garantir o numerus clausus e adornar esta crónica (que por enquanto ainda não passou a chronicle), a malta recicla as cápsulas e assim ajudam o ambiente… Onde é que terão ficado os dois primeiros R’s?
Outro facto (no meu entender bastante) curioso é a sua rede de comercialização, internet e um número bastante reduzido de lojas, concentradas exclusivamente nos maiores centros urbanos. As lojas à imagem da conceção original do produto, encontram-se luxuosamente adornadas, introduzindo-nos num meio elitista cada vez mais democratizado onde atualmente até os mais “labregos” as frequentam. As funcionárias escrupulosamente escolhidas são extremamente bem-educadas e com uma etiqueta fora do comum, convencendo-nos de que estamos a comprar uma joia de grande valor, talvez mesmo até um swarosky… Mas porra estou apenas a comprar café, sim estou a comprar café, nada mais… Para quê tanta “criquice”? É que esta “criquice” paga-se e não é pouco… Já repararam no preço de uma cápsula, obviamente uma cápsula isolada não é cara, mas reflitam lá, sim façam contas… Se uma cápsula custa 30 cêntimos, dez cápsulas custarão 3€. Sim 3€ por dez cafés, e dez cafés não duram muito! Agora pensem em 2 cafés por dia, num ano e estaremos a falar de 219€. Comparem agora com as máquinas tradicionais, quantos cafés podemos fazer com 250gr de café? Ao certo não sei responder-vos, mas asseguro que dará bem mais que 10 cafés, estamos a falar de 2 a 3€ o custo de um pacote de 250gr. Mas deixemos por agora as contas em stand-by, e com isto espeta-se outro estrangeirismo.
Vamos lá a ser racionais… O leitor, isto quem está entre aqueles 75% ou 76%, compraria um automóvel em que existia apenas um fornecedor de combustível? Ok (mais um!), bem sei que agora já existem algumas alternativas, embora parcas! No entanto deixo a questão na mesma: Compraria o combustível pela internet e ficaria um dia ou dois à espera que o entregassem ao domicílio? Correria imensos quilómetros só para poder abastecer o seu carro? Não compraria um carro desses, pois não? Claro que não! Mas então porque compra uma máquina de café em tais condições? Basicamente o leitor, deixou-se alienar, iludiu-se e foi na onda!
Foi em modas… 

*Esta crónica foi publicada no jornal Correio do Minho em 04 de Agosto de 2014.

http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=6073


Análise do senhor provedor:
Isto agora qualquer um pode aparecer no jornal! Nem que seja na secção da necrologia! Ehhh!!!!

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