O mundo está menos seguro…
O crescimento exponencial da violência nos mais diversos
moldes, os relatos frequentes de tais manifestações, os distúrbios psíquicos de
elementos das tribos refletindo-se quer em vandalismo, quer em “porrada” à
“fartazana”, geralmente orquestrada sobre os mais fracos, as frequentes
notícias nos meios de comunicação social, e algumas conversas com amigos
levaram-me a tomar uma medida de certo modo extrema, mas felizmente de reduzido
nível violento. Pois é… Eu agora uso o boné (cap, para os que não conhecem a palavra portuguesa e designado a
partir de agora por boné)
durante o dia e também à noite, inclusive no carro (bem sei que não pertenço à
tribo dos “ibizistas” – praticantes acérrimos da filosofia do boné no carro
desde finais de noventas), mas justifico tal uso nessas condições mais ou menos
contraditórias, com o motivo primordial de autodefesa tendo com intuito
infligir medo ao inimigo e impor ainda algum respeito, não que o uso de boné
signifique diretamente respeito, mas de certa forma intimida alguns membros das
tribos adversárias.
Estou ciente, que o uso de tal adereço de guerra dá-me de
certa forma um ar de básico, indivíduo parco em inteligência, violento, talvez
até um pouco rude, ar de suburbano, punk-rural
(dentro de certa medida desde que acompanhado de certas condições
extraordinárias, as quais não irei agora citar), e ainda de tenebroso. O boné
dá-me poderes especiais, dá-me autoconfiança e convenço-me de que sou forte,
rijo, duro e indubitavelmente quem está de fora capta esses sinais.
Sempre que houver algum problema, creio que um gajo de boné
impõe-se melhor. No fundo trata-se em boa verdade de uma metamorfose em que um
tipo de boné assume contornos animalescos, mais concretamente caninos provendo
gratuitamente alguns comportamentos intrínsecos à espécie. O boné toma o lugar
da cauda no elemento da tribo, pelo que esta acaba por contrair os mais
diversos significados, deste modo: sem boné – cão com a cauda entre o rabo
(medo, receio); boné colocado de frente – cauda levantada e estática (posição
de respeito com alguma possibilidade de ataque será oportuno observar o ângulo
da dobra da pala, pois quanto maior for este mais será a situação de perigo);
boné virado para o lado – cauda a abanar (pacífico, mas será conveniente ter
cuidado pois o tipo pode não regular muito da bola); boné virado para trás –
cauda firme e hirta e pelo eriçado (é melhor ter cuidado e evitar o confronto
direto, o ponto fraco será o pescoço, verifique se não usa uma coleira de
espinhos ou tachas – possibilidade de sadomasoquismo).
Um problema que em nada rareia e que poderá principiar um
confronto, é quando aparece outro elemento de uma qualquer tribo munido de um
boné na cabeça, será conveniente efetuar uma avaliação preliminar do sujeito.
Deste modo será oportuna a verificação do lado para onde está voltado o boné,
observar ainda o ângulo de inclinação da pala e caso esta possua um ângulo
menor que a nossa, a situação poderá estar controlada, caso contrário poderemos
estar diante de sérios problemas, pelo que a opção de fugir não será de todo
despropositada. Se houver alguma réstia de coragem, existirá ainda a hipótese
de rapidamente empinar mais a pala (tal como um gato encrespado ou um cão de
pelo eriçado) e partir para o confronto direto, embora não seja em muitos casos
aconselhado, sobretudo se o boné do adversário estiver voltado para trás
(estaremos então e à partida diante de uma raça perigosa).
O Homem continua muito ligado a factos pouco ou nada
racionais (muitos de contornos animalescos), cada tribo esconde centenas de
mistérios e hábitos praticamente inexplicáveis, e que poucos ousam em procurar
uma reposta direta ao assunto, espero desta forma ter contribuído para a
desmistificação de mais uma pequena parte dos mistérios das tribos…
Este texto foi publicado no jornal Correio do Minho em 2016/07/12
http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=7755
Este texto foi publicado no jornal Correio do Minho em 2016/07/12
http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=7755
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