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Eletrão à mesa…

 

Situado no centro histórico da cidade Berço, num antigo palacete do século XVII, o restaurante Covil do Eletrão apresenta uma ampla sala que se traduz num espaço elegante e de requinte. Paredes avermelhadas, teto bordejado por efeitos e pinturas à época pontuadas por candelabros de cristal e móveis de época contrastam numa perfeita simbiose que se funde com o rude e austero do eletrão transportando o freguês para um conceito arrojado e inovador de oportunidade única.


Reza a história de que neste espaço passaram 30 eletrões dos quais um teve o papel fundamental na redefinição deste espaço tal como hoje conhecemos. Resultado de um ato disruptivo e de uma euforia característica de si mesmo, este Messias surripiou uma taça grande de metal à qual introduziu vinho para grande gáudio dos demais, partilhando assim o precioso néctar entre os eletrões e transformando num ritual que dura até aos dias de hoje. Apesar de todo o festim nem tudo corria de feição pois no seio dos eletrões havia um Judas o qual num ato maléfico fez desaparecer uma garrafa ao que o Messias enraivecido proferiu por todo o restaurante “Quem me fodeu o vinho?!”. Frase esta que se tornou mítica e que ficou para sempre ligada ao Covil do Eletrão e que hoje podemos observar inscrita em letras góticas douradas na porta vermelha de entrada deste estabelecimento. Reza ainda a história de que este Judas nunca foi descoberto e nem se sabe se efetivamente seria apenas um ou vários traidores…

Mas para grande azar do Messias, o cardápio de infortúnios não era apenas composto pelo episódio da subtração da garrafa, o amadorismo de alguns dos eletrões levou ainda ao ato negligente da mistura de vinho branco com vinho tinto, ao que o Messias ripostou irascivelmente “Não mistureis vinho branco com tinto!” e com um único olhar desintegrou a perna do copo de vidro para que os seus discípulos ficassem convenientemente sensibilizados para a gravidade de tais atos. E para que ficasse para sempre gravado nas memórias futuras o Messias pegou numa tábua de faia em forma de raquete onde serviam os hambúrguers e escreveu os dois grandes mandamentos do Eletrão:

  1.      Não roubarás o vinho do próximo!
  2.   Não misturais vinho branco com tinto!

Findo o repasto a saída dos eletrões deste espaço pautou-se por uma grande fricção entre os eletrões e o dono do restaurante o qual claramente não lhe agradou toda aquela ramboia assim como a apropriação “temporária” (com grave risco de se tornar definitiva) da grande taça. E mesmo já com a grande taça entregue a quem de seu direito, o dono da janela do piso superior do palacete barafustou incisivamente, não compreendendo a gênese do eletrão. No entanto Messias pouco conformado com a má receção dos eletrões passadas umas horas junto com três discípulos voltaram ao palacete a fim de estabelecer a paz e degustar um belo repasto pois o estômago já começava a controlar o cérebro. Foi uma missão de tal forma bem-sucedida que o dono do estabelecimento acabou convertido e temos hoje tal como conhecemos a Toca do Eletrão, um espaço ímpar de tributo ao eletrão.

 

História à parte que o palato assim o exige, a cozinha é um misto de tradicional com o moderno numa reinvenção perfeitamente conseguida com pratos bem elaborados e devidamente confecionados. Do cardápio destaca-se de imediato o folhadinho de bacalhau com gambas o qual se revela uma aposta mais que segura por estas paragens. No que toca à carne realçam-se os naquinhos de vitela com batatinhas a acompanhar, um prato de nota excelente que surpreende pelo seu intenso sabor e pela carne bastante tenrinha, fruto de fartas horas ao forno. No que diz respeito à carta de vinhos, evidenciam-se os vinhos verde branco Arca Nova 2022, um vinho frutado e fresco muito bem equilibrado e com uma leve cor citrina em que sobressai o sabor a maçã verde, no que toca a maduros destaca-se o Douro tinto Feitosa, um vinho de nota excelente que se revela muito fresco na boca com bom equilíbrio, algum comprimento final e com suaves amargos. Para terminar, em grande o repasto, digno dum verdadeiro eletrão, encerra-se com a sobremesa típica da casa, um sortido de contrastes composto de fruta diversa e acompanhado por um folhadinho de maçã, canela e doce de ovos.

No que concerne à animação, algo mais que garantido, no Covil do Eletrão realça-se o hino EEI, cantado e devidamente coreografado de acordo com as melhores práticas impostas pelas entidades regulamentares e em dose dupla servido antes e depois do manjar.

 

Serviço simpático e atencioso de trato peculiar “Está bonito o filho da puta!” é esta a saudação neste espaço agradável e histórico. Restaurante Covil do Eletrão, um restaurante com alma de eletrão!

 

Mário Campos (2023/09/17)

Comentários

  1. Obrigado pela magnífica história partilhada! De 25 anos de eletrão à mesa…

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  2. Estória épica, sem dúvida um espaço incontornável da cidade. Há muito que merecia ser citado neste espaço.

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