- “28 de Maio, diz-te alguma coisa?” (pergunta-me a minha mulher)
senhor Américo Baptista
Fico assombrado com tal pergunta e não respondo de imediato. Procuro
ganhar tempo, procuro uma resposta, busco um acontecimento passado. Medito e
passo a pente fino toda a nossa vida e nada me sai… Passados 20 ou 30 segundos
e ainda nada me discorre, nada vislumbro. Indago se deveria de saber, se estarei
a falhar algum facto importante e que facto estarei a falhar. Aflora-me à
cabeça qualquer coisa passada no Estado Novo, mas nada em concreto. Efectivamente
não sei! Deverei desviar o assunto? Será perniciosa a minha ignorância? Talvez
sim, ou talvez até nem seja nada de maior. O tempo vai passando, a pressão
aumenta, o batimento cardíaco também aumenta e os nervos afloram a pele. A cara
de pensativo já não encobre mais a minha ignorância, tenho de dar uma resposta.
Um “não sei!” ou algo do género. Talvez algo de mais subjectivo, de preferência
uma resposta que não me comprometa muito.
As mulheres costumam ser implacáveis com as datas, registam-nas
todas mentalmente. Ordenam os factos, os acontecimentos – mesmo os mais
insignificantes – e tudo por datas. Sem qualquer desprimor, antes pelo contrário,
as mulheres por vezes assumem-se como autênticas enciclopédias cronológicas humanas.
Possuem uma capacidade mais que exímia para lidar com as datas, um poder inato
e inalienável, inalcançável a um homem. Neste campo, o homem apresenta um
comportamento bastante medíocre (para não dizer insuficiente), o homem (de um
modo geral) e no que toca a datas apenas se notabiliza pelos seus
“conhecimentos temporais” numa área bastante distinta e limitada, o «futebol».
O homem aqui, tem a capacidade de memorizar determinada jogada efectuada por
determinado jogador e numa determinada época. Mas note-se que a precisão sob o
domínio temporal é sempre escassa e reduzida, sendo muito raros os casos em que
o homem consegue identificar a jornada em que determinado sujeito praticou
determinada acção. Embora o sujeito e a acção no domínio futebolístico fiquem mais
registadas de forma indelével. E nunca falha!
Voltando o meu pequeno “problema”, creio que não possa empatar
mais, Estou consciente disso e talvez seja melhor um “Não sei!”. Directo e sem
rodeios, nada de subjetividades. Mas custa-me bastante dar tal resposta, pois
não gosto de não saber!
Bem sei que ninguém sabe tudo, sabe-se sempre pouco do muito que
há! E quanto mais se sabe, mais se sabe que menos se sabe! Toma-se consciência
de que o conhecimento é ainda mais vasto do que se pensava… Mas isto? “28 de
Maio?”. Será um erro crasso da minha parte? Não me posso autoflagelar. Se não
sei, não sei e ponto…
- “Não sei!”
Campos.
A análise do senhor provedor Américo dos Anjos Baptista:
O melhor é anotar tudo numa agenda, ou então num moleskine
senhor Américo Baptista
Comentários
Enviar um comentário