O “Galinha”, mais que uma pastelaria, era o epicentro de todo o movimento ao fim da tarde naquele subúrbio. O “Galinha” era tudo, e era nada! Pastelaria, snack-bar, pizzaria, hamburgaria, padaria, gelataria eram estas algumas das suas especialidades amplamente genéricas.
O “Galinha” era como aqueles canivetes suíços: mil e uma funcionalidades, mas de fabrico chinês (“balato”), e isento da melhor qualidade, sobretudo nos pratos do meio-dia onde os fritos, tal como em muitos outros lados, eram o rei na cozinha.
Aquele subúrbio era dominado pelo “Galinha”, a concorrência era diminuta, senão mesmo nula. O “Galinha” esmagava-os com a sua superioridade medíocre. Preços e variedade imbatíveis eram o seu segredo e contava já com três estabelecimentos na freguesia. Velhos, novos, casais, divorciados, solteiros, viúvos, matarruanos, intelectuais e militares; todos frequentavam o “Galinha”, e eu não era excepção…
Eu, embora não amiúde, almoçava lá. Por vezes, ao fim do dia até comprava um bolo para levar para casa. Nos dias em que o trabalho não me corria de feição era no “Galinha” que eu aliviava a mente, um bolo e um galão directo era a minha receita. Açúcar para um cérebro cansado das agruras do dia…
Certo dia algo se passou. Os carros não fluíam, nem tão pouco surgiam. Acontecera uma catástrofe? Nada de bom se augurava. Alguém tivera cortado o pescoço ao “Galinha”, e este já não se movia. O “Galinha” estava morto e encerrado. Era o fim de um pequeno império no subúrbio! Do legado resta agora, apenas as memórias e umas paredes em ruína, as quais se encontram cheias de inscrições, sendo algumas delas, mesmo de cariz obsceno, arte esta do fruto do caos e da desordem que a nossa sociedade caiu…
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